O velho ditado que diz “educação começa em casa” é mais do que válido, inclusive para aprender a economizar pensando no futuro.
E quem não se lembra de ter tido na infância um cofrinho para encher de moedas e, depois, ter o dinheiro depositado em uma caderneta de poupança? Essas foram as nossas primeiras aulas sobre educação financeira e tínhamos muito orgulho em encher esses cofrinhos, geralmente presenteados por nossos pais ou avós que, inclusive, nos levavam à agência bancária para a abertura da conta.
Hoje em dia, os cofrinhos praticamente desapareceram e há uma explicação. Com tantas mudanças na economia e, principalmente, após passarmos muitos períodos de alta inflação, alterações no nome da moeda e cortes de zeros, até a volta da estabilidade foi complicado saber qual era, sem trocadilhos, o real valor de nosso dinheiro. Aquelas moedas da nossa infância desapareceram e, rapidamente, foram substituídas por outras. Guardar dinheiro debaixo do colchão também ficou para trás. Senhoras e senhores, hoje os tempos são outros.
Vivemos na era da estabilidade econômica e o “pensar no futuro” deixou de ser uma hipótese, dando lugar ao planejamento. O objetivo, agora, é viver por muitos anos desde que seja com qualidade de vida, o que significa saúde e condições financeiras. E é exatamente nessa nova mentalidade que a previdência complementar ganha cada vez mais mercado. Uma indústria que não apenas realiza sonhos, como também tem um valor social muito grande para o País, à medida que a reserva financeira arca com projetos e financia a economia, trazendo benefícios ao investidor ao mesmo tempo em que é também um componente de sustentabilidade.
Os brasileiros estão aprendendo a pensar e planejar o futuro. Tanto que a indústria previdenciária trabalha a todo o vapor, sem que a crise chegue ao menos perto dela, como disse Tarcísio Godoy, presidente da Brasilprev, em entrevista ao Giro Business. “O investidor de previdência não está buscando a hora certa de entrar ou de sair do mercado de capitais, pois é um investimento a longo prazo. Quem investe não deixou de aplicar em previdência e muitos estão buscando melhores rendimentos, uma hora em renda fixa, noutra em variável”, disse, acrescentando que, visivelmente, as pessoas estão partindo para o consumo consciente sem desistir de seus projetos de vida. “Todos devem consumir, o que é muito positivo, mas o consumo deve ser dividido de acordo com a capacidade de planejamento, sempre pensando no presente e no futuro”.
Jovem e grandiosa
No Brasil, a previdência aberta – que ao contrário da fechada, feita por grupos de trabalhadores, pode ser contratada por qualquer pessoa física ou jurídica – é relativamente nova, porém com números grandiosos. Em apenas quinze anos, essa indústria cresceu na casa dos 34% ao ano e representa 5,6% do PIB. Nas economias mais desenvolvidas ela tem uma participação de mais de 10%. Um dia chegaremos lá!
Segundo Godoy, projetando um crescimento razoável de cerca de 15% ao ano até 2020 ou 2022, as reservas podem chegar a R$ 1 trilhão. No ano passado, segundo a Fenaprevi, as reservas totalizaram R$ 135,8 bilhões. São números que comprovam que os brasileiros estão tomando gosto pela previdência privada e, mais do que isso, estão colocando em prática os princípios da educação financeira: o pensar no futuro, que nunca foi nos proporcionado antes por termos convivido por tantos anos com inflações galopantes.
Fatores que contam
E não foi apenas em função da estabilidade que a previdência privada aberta ganhou notoriedade no País. Godoy atribui como fatores essenciais para o incremento dessa indústria a melhor distribuição de renda, inclusão social, dinâmica do mercado de trabalho – nos dias de hoje, são muito raras as pessoas que trabalham a vida inteira em uma única empresa – e ao aumento da classe média. “Só se pode ser previdente se há previsibilidade; que passa de fato a ser percebida pela sociedade brasileira a partir de um processo de estabilidade monetária”.
Também não podemos deixar de destacar o aumento da longevidade – hoje estimada em 72,7 anos e, em 2050, em 81 anos. E, mais uma vez, a previdência privada tem um papel primordial no planejamento do futuro. Segundo o presidente da Brasilprev, é preciso chegar a um porto seguro com uma embarcação bastante sólida. “O investidor brasileiro tem como característica investir a curto prazo. Até mesmo pelo curto tempo de estabilidade econômica, ele ainda não tem a crença de que a longo prazo os retornos são maiores. Mas isso já está mudando e quanto mais a taxa de juros for reduzida, maior será a procura por ativos mais voláteis”. Maior renda e tranquilidade já são o princípio de uma qualidade de vida no futuro.
Pacto social
Para muitos, a previdência social criada nos anos 1930, na gestão de Getúlio Vargas, ainda é um paternalismo nacionalista. Na época, a matemática de oito trabalhadores para um beneficiado foi revertida para os atuais dois contribuintes para um aposentado e o governo, a todo custo, busca mantê-la viável, com a meta de acabar com os milhões de reais de déficits anuais.
Para Godoy, não se trata de um paternalismo, mas sim de um pacto social. “É uma questão de equilíbrio das contas públicas que vem ao longo dos anos e do tipo de benefício que a sociedade quer pactuar com a geração futura. E, nessa situação, o País já passou por três reformas na previdência na última década e outras deverão vir ao longo do tempo. Quando o País está crescendo, a pressão por essas mudanças diminui um pouco e vice-versa”, afirmou Godoy.
Na opinião do presidente da Brasilprev, a previdência social, como alguns preveem, não deixará de existir. Ao contrário, sem a sua existência ela onera de alguma maneira parte da sociedade que dependerá dessa renda para a sobrevivência. A questão é um debate democrático, sob a perspectiva de encontrar um ponto de equilíbrio, enquanto a previdência privada é o planejamento da vida que se quer ter no futuro.
Publicado em 10/11/2009
Gazeta Mercantil










